domingo, 1 de abril de 2018

A Depressão de Jó


A Depressão de Jó


Conhecemos seu estado depressivo quando “abriu Jó a boca” (Jó 3.1). Depois da faísca ter desencadeado seu desmoronamento interno, Jó ficou sete dias e sete noites sem dizer nenhuma palavra, pois a dor era muito grande (2.13). Seu prolongado silêncio foi finalmente interrompido. Nesse momento, não teve adoração. Ele lamentou o dia em que nasceu.


Pereça o dia em que nasci. Seu desabafo é rico em detalhes. Ele deseja que o dia de seu nascimento seja convertido em trevas. Que não houvesse música naquela noite. Que as estrelas se escureçam. E que a alva não tenha luz. Ele lamenta e deseja ter morrido já no ventre de sua mãe.

Ele questiona por que se dá vida aos amargurados de ânimo que esperam a morte, e ela não vem. Em seus pensamentos, ele cava a procura dela mais do que tesouros ocultos. Ele imagina que, achando sua sepultura, ele saltaria de alegria e exultação.


Repare que o pobre servo do Senhor em sua agonia, deseja já ter nascido morto, como um aborto oculto

Em seu novo questionamento, ele indaga o porquê se dá luz ao homem… a quem Deus o encobriu. Parece que o pobre sofredor se sente encoberto, longe dos olhos de socorro de Deus.


Ele descreve seu pesar interno dizendo que antes do meu pão vem o suspiro. Seus gemidos se derramam como água.


E o capítulo de seu primeiro desabafo vai se finalizando com o pobre sofredor explicando que o que ele mais temia lhe veio. O que ele mais receava lhe aconteceu. A faísca atingiu seu ponto fraco. Ele se lembra que sempre foi um homem forte, que muito trabalhou, mas veio sobre mim a perturbação.



Buscando entendimento da descrição inicial de Jó

Devemos olhar para esse profundo desabafo com um sentimento de empatia. Precisamos buscar no Espírito uma capacidade afetiva para entender a dor alheia. Faltou isso nos amigos de Jó. Após seu desabafo, aqueles que poderiam ajudar acabaram por piorar ainda mais a situação. Ficar pior é a última coisa que um depressivo precisa. Por isso, vejamos algumas considerações sobre o desabafo de Jó:


1- No fundo, por mais profunda que seja a depressão, o sofredor deseja por alívio.


O único alívio que Jó imagina para solução de suas perturbações internas é já ter nascido sem vida.
Antes de julgarmos essa opção que Jó desabafa, precisamos primeiro levar em consideração que Jó deseja alívio para suas dores. Tão somente isso.

Num dos relatos dos casos depressivos que citamos, vemos que uma jovem diz ter pegado uma faca para se cortar desejando aliviar sua dor. Não entre agora no quesito do certo ou errado. Antes, precisamos entender por agora que um depressivo deseja alívio. Partindo daí, já teremos uma vasta gama de ferramentas para ajuda.



2-  O desabafo não é pecado


Jó conseguiu descrever em palavras uma avalanche de perturbações internas. Ele gritou. Abriu a boca. É tudo que um sofredor depressivo precisa inicialmente.


Aqui os seus amigos acertaram. Eles se compadecem e também ficam os sete dias ao lado de Jó sem pronunciar uma única palavra. Esperaram o grito do amigo sofredor. É difícil ajudar o depressivo antes dele gritar pela ajuda. Os humildes servos do Senhor que realmente desejam ajudar alguém também devem esperar pelo pedido de ajuda. Devem orar ao Senhor para que o Santo Espírito impulsione o sofredor a abrir a boca, como fez Jó. Quando isso ocorrer, precisamos estar preparados para ouvir de tudo. Nesse importante momento de desabafo, a fria balança dos julgamentos deve ficar de fora.

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3- Jó deseja um lugar onde não exista dor



Nesse primeiro desabafo, Jó deixa transparecer o motivo desse seu lamento. Ele imagina um lugar onde sua alma estaria se, ao nascer, nunca tivesse visto a luz. Então ele chama esse lugar de ali. Veja:


Ali, os maus cessam de perturbar; e, ali, repousam os cansados.

Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator.

Ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor.


Em sua dor interna, o pobre homem deseja um lugar onde os maus não perturbem. Suas aflições já são terríveis demais para serem ainda acrescentados comentários maldosos ou até mesmo cheios de boa vontade, mas trazem dor sobre dor.


As vezes, o depressivo evita falar com as pessoas porque teme ouvir as mesmas frases de sempre que o deixam pior: sai dessa, pare com isso, tem gente pior que você… e ainda outras ainda mais perturbadoras, como: é falta de oração, é falta de fé, é falta de um encontro real com Deus, é algum pecado escondido... Se lermos os “bons” conselhos dos amigos de Jó, veremos que foi exatamente essas coisas que falaram para o pobre deprimido. Nada disso ajudou Jó, nada disso ajuda o pobre depressivo. Apenas piora muito.

Jó deseja ainda um lugar onde há repouso ao cansados. Lembre-se que ele estava há sete dias sem reagir, parado, calado… e mesmo assim, terrivelmente cansado. A depressão causa essa sensação de cansaço. O sofredor fica num estado frequente de cansaço. Mesmo em repouso, ele quer repousar.


O lugar que Jó anseia é onde não se ouve a voz do exator. Sem pesadas cobranças. Tudo o que ele não quer é ser exigido. Um depressivo tem sua auto-estima cavada a fundo. Exigir que ele simplesmente “pare com isso” soa como a voz opressora de um exator.


E, por último, Jó deseja um lugar onde os pequenos e grandes sejam iguais. O depressivo se sente pequeno, diminuído. E os outros são melhores que ele, são grandes. No fundo, ele deseja ser tão bom quanto, fazer direito, mas não encontra nele força para isso.



4- O lugar que Jó tanto desejou é tão real como essa parede ao seu lado


Se assim o Senhor te trouxe até aqui, oh meu amigo sofredor, e você tanto se identificou com o desabafo de Jó, e no fundo, você também deseja um fim para sua dor, um lugar onde as coisas sejam diferentes, eu quero lhe dizer que esse lugar existe. É real. É acessível.


O Senhor Jesus disse Vinde a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Oh quão amigo e compreensivo é este Senhor. Ele é esse lugar. O lugar que Jó tanto desejou.


As palavras desse Bom Pastor não geram perturbações, pelo contrário, geram vida. Olhe o convite e veja que Ele não chama os bons demais, os sarados e tratados, e nem os que sempre acertam. Seu convite é para os que estão cansados. É para os que já não suportam mais olhar para si e não vê força alguma. Oh alma cansada, escute esse Bondoso Senhor que o chama para si. Sua promessa também não é irreal, como de tantos amigos de Jó. Não algo do tipo: vai orar que passa, vai capinar, vai para igreja… A promessa desse Senhor Realista é eu vos aliviarei. Alívio, tão somente. Não há mágica. Não é um deletar de memórias ruins. Não é nada disso, o Senhor promete aliviar essa dor que você sente. Jó chegou a imaginar que morrendo, sua dor seria aliviada. Esse tão bondoso Senhor, morreu então por ti, e pode lhe oferecer esse tão desejado alívio.


Não estou dizendo que o depressivo está longe de Deus, como sugeriu os amigos de Jó. Talvez, o que o sofredor depressivo ainda não conheça é que esse Deus continua o amando imensamente mesmo nos momentos de lamento e desesperança. Por mais funda que seja a depressão, a Graça é ainda mais profunda.


5- Deus não o encobriu


Em seu desabafo, Jó mencionou que Deus o encobriu. Sensação recorrente do depressivo, que se sente tão ingrato. É como se Deus estivesse decepcionado com ele. A dor se mistura com a vergonha. O depressivo se sente tão longe de Deus.


O pobre sofredor precisa ouvir que Deus não está longe dele. Ora, sua depressão é apenas uma doença que Deus quer tratar. Como uma mãe que olha com ternura e compaixão envolvendo em seus braços o seu filho doente, assim Deus quer cuidar do depressivo

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