Posted by : Francisco Souza
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
Naquele dia o Senhor castigará com a sua dura espada.
Vinte e Sete
Naquele dia o Senhor
castigará com a sua dura espada... o dragão. Este versículo pertence ao
parágrafo iniciado em Isa. 26.20. O caos também terá de ser derrotado. Para
ilustrar o fato, o profeta usa uma referência mitológica, o temível monstro
Leviatã (ver a respeito no Dicionário, bem como as notas adicionais de Jó
41.1). Há cinco referências a esse monstro marinho nas páginas do Antigo
Testamento. Além destas três referências (este versículo, duas vezes; e então
em Jó), temos Sal. 74.14 e 104.24. O nome cananeu desse monstro mitológico é
Lotan. De acordo com a versão cananéia, o monstro é morto com um cacete, mas
aqui é morto com a espada de Yahweh, o qual, pessoalmente, extinguirá a
desarmonia e o caos, antes que chegue o Novo Dia. Sal. 74.13,14 pode refletir a
versão cananéia, com a qual a versão babilónica é muito parecida.
No tablete I AB de
Ras Shamra, encontramos as seguintes palavras:
Quando tiveres
terido a L-t-n, a serpente que foge, (e) tiveres dado fim à serpente que se
retorce, a poderosa com sete cabeças...
Note o leitor os
paralelos verbais, que foge e que se retorce. A versão hebraica não menciona as
sete cabeças, mas Sal. 74.13 tem algo similar. Ali o monstro, nas diversas
versões, é um monstro marinho, ou, algumas vezes, personificado pelo mar. Ver
Amós 9.3.
As palavras “que
foge” significam “rápida”. Portanto, a imagem é de um monstro muito veloz, que
se
contorce como uma serpente. Os intérpretes tentam identificar esse monstro
com um império específico, tal qual a Babilônia ou o Egito, mas isso é limitar
demais a questão a coisas terrenas, pois está em foco o caos sobrenatural.
A morte desse
monstro, além de simbolizar o ato de livrar o mundo do caos cósmico, também
fala da derrota de todos os inimigos de Deus, que são os agentes do caos e da
iniqüidade neste mundo. Com a morte do monstro leviatã, será firmada a
soberania de Deus, sem nenhuma oposição neste mundo, o que é necessário para
que a era do Reino de Deus seja trazida, bem como as eras eternas que se
seguirão.
Vários Nomes do
Monstro. Leviatã (ver Jó 41.1; Sal, 74.14 e 104.24; Isa.
27.1); fíaabe (ver
Jó 9.13; 26.12,13; Isa. 30.7; 51.9; Sal. 89.10); Tanim, usualmente traduzido
por “dragão” ou monstro (ver Isa. 51.9; Eze. 29.3; 32.2; Sal. 74.13; Jó 7.12).
Além disso, o mar é personificado como monstro (ver Isa. 51.10; Hab. 3.8; Sal.
74.13; Jó 7.12; 26.12; 38.8. Cf. Apo. 21.1).
Continua aqui o
Pequeno Apocalipse de Isaías. Essa seção ocupa os capítulos 24-27. Ver a
introdução à seção na introdução ao capítulo 24.
A Vinha do Senhor
(27.2-6)
27.2
Naquele dia dirá o
Senhor: Cantai a vinha deliciosa! Já vimos sobre essa figura, em Isa. 5.1-7,
mas ali é dada a idéia oposta. A rebelde e apóstata nação de Israel é retratada
como uma vinha que azeda e nada produz, a despeito de todas as provisões
divinas. Mas aqui temos uma boa vinha, que Yahweh protege de espinhos, ou seja,
de inimigos. O texto hebraico é problemático, tendo sofrido, como é patente,
alguns antigos erros de escrita, ou então, desde o princípio, erros primitivos.
A Septuaginta tem variantes significativas, algumas das quais poderiam
representar o texto original.
A vinha é saudável e
produtiva, um deleite para o vinhateiro; portanto, que seja levantado um
cântico de louvor em sua honra. Isso deve ser contrastado com o quadro entristecedor
de Isa. 5.1-7. Os tempos provocaram uma mudança; o terror chegou; o
remanescente de Israel foi purificado (capítulo 24). Agora estamos em um novo
dia, um dia escatológico, pelo que seja entoado um cântico de louvor. “O
profeta aparece novamente (tal como em Isa. 26.1) como o compositor do hino do
dia futuro de triunfo dos remidos. Ele tinha entoado um cântico fúnebre sobre a
vinha infrutífera e entregue à desolação. Mas agora ele transforma o lamento em
um poema” (Ellicott, in Ioc.).
27.3
Eu, o Senhor, a
vigio e a cada momento a regarei. Yahweh é o plantador e o vigia da vinha; Ele
a rega continuamente, garantindo-lhe cuidado e atenção, em uma base diária. Ele
estabelece um posto de vigia, a fim de que nenhum destruidor se aproxime para
praticar alguma coisa atrevida, montando vigilância dia e noite. As chuvas são
abundantes, e há um sol adequado, mas sem excessos. Foram providas todas as
condições apropriadas ao desenvolvimento e à frutificação.
Que mais se podia
fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito?
(Isaías 5.4)
Cf. Can. 8.12 e Osé.
14.5-7. “Que privilégio é estar em uma plantação como essa, regada e defendida
pelo próprio Senhor!” (John GUI, in Ioc.).
27.4
Não há indignação em
mim. Yahweh se sentia feliz com a Sua vinha; Ele não guardava nenhuma ira
contra ela, conforme se vê em Isa. 5.1-7. “Se alguém fizer uma muralha de
espinhos na guerra, eu marcharei para ela e a queimarei” (NCV). Se qualquer
inimigo vier em movimento para danificar a vinha, isso será considerado um ato
hostil de guerra, e o Senhor dos Exércitos aniquilará o inimigo que ousou
planejar contra a vinha.
Quem me dera
espinheiros e abrolhos. Ou seja, os inimigos de Israel que procurassem fazer o
mal, o adversário ímpio: Isa. 9.18; 10.17; II Sam. 23.6.0 ataque não mais seria
contra a vinha infrutífera, mas contra qualquer fator perturbador que atacasse
do lado de fora. O inimigo é pintado como plantas daninhas que prejudicassem a
vinha, mas também fossem altamente inflamáveis, ou seja, de fácil eliminação.
27.5
Ou que homens se
apoderem da minha força, e façam paz comigo. Uma
palavra graciosa é
aqui dirigida aos inimigos potenciais de Israel. Se eles, como a vinha,
fizessem de
Yahweh seu refúgio e fortaleza, sua proteção, conforme Israel tinha
feito, então a paz poderia ser estabelecida. Yahweh convidou-os aqui a
estabelecer com Ele paz, e não guerra. Então as bênçãos se multiplicariam e,
presumivelmente, haveria nova vinha de produtividade, ou os inimigos tornar-se-
iam parte da bendita vinha de Israel, visto que de Israel fluiriam benefícios
espirituais, quando Jerusalém, uma vez mais, se tornasse o centro espiritual do
mundo. Ver Isa. 26.9. O vs. 6, em seguida, subentende a mesma coisa. Ver no
Dicionário o artigo chamado Paz, e cf. 9.6 e 26.3,12.
27.6
Dias virão em que
Jacó lançará raízes. A vinha agradável e produtiva (Israel) lançará raízes,
pelo que terá todas as condições necessárias para o crescimento e a
produtividade. Surgirão a inflorescência e o botão, e a frutificação será
grande. O mundo inteiro ficará cheio desse fruto, pelo que haverá
universalização que beneficiará todos os povos. “Quando chegar a era do Reino,
2868 ISAIAS então Jacó (sinônimo
de Israel) será produtivo de novo (cf. Isa. 35.1-3,6,7; Amos 9.13,14; Zac.
14.8), a nação por meio da qual Deus abençoará o mundo (cf. Gên. 12.3)"
(John S. Martin, in toe, que se refere a uma das provisões do pacto abraâmico;
ver sobre isso em Gên. 15.18).
Ora, se a
transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento em
riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude!
(Romanos 11.12)
"A restauração
deles será como as 'riquezas dos gentios' (Rom. 11.12; Osé. 14.6)"
(Ellicott,//) toc.|
Significado dos
Sofrimentos de Israel (27.7-11)
27.7
Porventura feriu o Senhor
a Israel como àqueles que o feriram?
Provavelmente não
devemos entender aqui que a vinha agradável e produtiva, mencionada nos vss.
1-6, agora estivesse ameaçada de julgamento. Esta breve seção é um oráculo
separado que explica por que Israel tinha de sofrer. Yahweh cuida de Seu povo,
e parte desses cuidados consiste em aplicar disciplina, sob forma de castigo,
sempre que necessário. Isso posto, os julgamentos divinos são os dedos da
amorosa mão de Deus, e não medidas destruidoras sem possibilidade de redenção.
Israel, pois, seria ferida, tal como seus inimigos seriam feridos. É preciso
que haja justiça. Este versfculo, apresentado como indagação, tem por intuito
fazer distinção entre os tipos de punição que atingiam Israel e seus
adversários. A restauração segue-se à punição que atinge Israel, o que,
presumivelmente, não se segue à punição que atinge seus inimigos. Mas o Novo
Testamento reverte até mesmo esse quadro lamentável, porquanto o Novo
Testamento prevê que o amor universal (ver João 3.16) apagará tais distinções.
Ver na Enciclopédia de Bfblia, Teologia e Filosofia o artigo chamado
Restauração. Todos os julgamentos divinos são remediais, e não apenas
retributivos, e é precisamente isso que poderfamos esperar de Deus, pois Deus é
amor (ver I João 4.8).
27.8
Com xô! xó! e exflio
o trataste. Deus sempre julgará Israel de acordo com a medida correta, tendo em
vista o beneffcio desse povo, e não a sua destruição. "Medida por
medida" é como dizem as traduções do sirfaco, da Vulgata Latina e do
Targum, para explicar uma palavra hebraica de significado incerto. A
Septuaginta diz aqui "com guerra", o que concorda com o que se segue.
Dois exflios foram sofridos depois dos ataques de inimigos estrangeiros. A
nação do norte, Israel, foi atacada e levada para o exflio pela Assfria (722 A.
C). Então Judá sofreu o mesmo tipo de tratamento por parte da Babilônia (596 A.
C). Ver no Dicionário os verbetes intitulados Cativeiro Assírio e Cativeiro
Babilónico. Foi a apostasia que causou essas medidas drásticas, mas elas não
assinalaram o fim da história. Jesus reverteu o cativeiro assfrio (ver Mat.
4.15,16), e ainda haverá outros atos restauradores para possibilitar a era do
Reino. Os julgamentos atingiram Israel como o sopro violento do vento que vem
do deserto. O vento oriental, tão forte e quente no Oriente Próximo, fala, no
Antigo Testamento, de testes e julgamentos. Mas aquele vento foi um sopro que
visava o "bem" de Israel. O vento de Deus só soprou tão forte e por
tanto tempo quanto redundasse para o bem final de Israel. Aqui o vento é a
agência dos cativeiros. Os captores vieram do leste (estritamente falando, do
nordeste).
27.9
Portanto, com isto
será expiada a culpa de Jacó. O propósito do vento hostil não era operar uma
hostilidade final contra Israel, mas soprar para longe a palha e assim
restaurar o grão. Jacó tornou-se profundamente culpado em sua apostasia, e isso
provocou o sopro de Yahweh contra ele. Mas esse sopro foi curador e removeu a
culpa. O incidente todo envolveu expiação (ver sobre essa palavra no
Dicionário). Com a remoção do pecado, haveria fruto pleno na vinha. O pecado
principal era a idolatria, conforme o presente versfculo deixa claro. O
julgamento divino esmagaria todos aqueles fdolos e os transformaria em pedaços.
Apesar de ser uma situação extremamente complexa (pois havia muitos deuses
envolvidos na adoração idolatra em que Israel caiu), as Aserás são destacadas
para falar da situação toda. Ver no Dicionário o artigo chamado Deuses Falsos,
III.4. Quanto a notas adicionais a respeito, ver I Reis 14.15. Ofereço notas
expositivas abundantes naquelas referências, e não repito o material aqui.
Havia muitos altares dedicados a muitos deuses, e as colunas de Aserá, sfmbolos
de madeira da deusa cananéia da fertilidade, estavam entre os mais crassos
tipos de idolatria que enganaram o povo de Israel.
27.10
Porque a cidade
fortificada está solitária. Jerusalém, a alegada capital do culto a Yahweh,
tinha cafdo em vergonhoso paganismo, fazendo com que Judá se tornasse apenas
outra nação paga, perdida estava sua distinção como nação de Deus. Ver quanto a
essa distinção em Deu. 4.4-8, com base na possessão e na prática da legislação
mosaica. Jerusalém tinha sido fortificada para resistir a invasões dos
inimigos, mas sem a proteção de Yahweh, como Sua "possessão
distintiva", foi facilmente invadida, saqueada e levada cativa para a
Babilônia. Assim sendo, a cidade que tinha sido agradável habitação para o povo
foi transformada em deserto, que só tinha préstimo para servir de campo de
pasto aos animais domesticados. E o pouco de erva verde que restou tomou-se
alimento para os animais. Cf. esse simbolismo com Isa. 13.21,22, condição na
qual a gloriosa Babilônia foi deixada, finalmente. Ver Isa. 25.2 quanto a uma
predição de condenação semelhante para o povo de Deus. "O quadro da
desolação — os animais agora se alimentavam onde tinham sido as ruas agitadas
de uma cidade populosa" (Ellicott, in toe).
27.11
Quando os seus ramos
se secam, são quebrados. A relva verde do lugar tinha sido destrufda. Os ramos
das árvores se ressecaram e estavam mortos. As mulheres (as poucas que
sobreviveram e permaneceram na área) vinham e faziam fogueiras dos galhos e dos
ramos secos das árvores. Aquele povo adquirira uma mente crassa e teimosa, pelo
que Yahweh os julgou incansavelmente, sem compaixão, porquanto uma operação
radical era a única coisa que poderia curá-los. Foi necessário que Deus
suspendesse temporariamente Sua compaixão, porque a ira foi o ápice da
operação. No entanto, foi também uma faca misericordiosa, pois o julgamento não
era uma finalidade, mas um meio de promover um novo dia.
O Dia da Colheita e
a Última Trombeta (27.12-13)
27.12-13
Naquele dia em que o
Senhor debulhará o seu cereal. O Pequeno Apocalipse de Isafas (capftulos 24-27)
termina com esta nota. Trata-se de uma promessa escatológica de livramento.
Dois versfculos retratam a questão. "No vs. 12, a figura de um dia final
de colheita (cf. Joel 3.13; Mat. 13.39; Apo. 14.15) proclama a separação, não
entre justos e fmpios, entre judeus e seu meio ambiente pagão, e a reunião
deles como filhos de Israel. No vs. 13, a grande trombeta conclama os filhos de
Israel à adoração (cf. Joel 2.15 e Sal. 81.3). Essa convocação é à paz e à
adoração, e não à guerra (cf. I Sam. 13.3), chamando-os do exflio para fora das
fronteiras ideais das terras de Israel, que eram: o rio Eufrates (cf. Gên.
15.18) e o ribeiro do Egito, o wadi-el-'Arish, 80 km a sudoeste de Gaza"
(R. B. Y. Scott, in toe). Entretanto, o rio do Egito, o Mto, era a fronteira
ideal com Israel. Ver sobre as provisões do pacto abraâmico nas notas de Gên.
15.18. De fato, as fronteiras de Israel chegaram ao wadi-el-'Arish, mas não às
fronteiras ideais, o rio Nilo. É curioso que o profeta reduziu a visão das
fronteiras ideais (vs. 12) do Nilo (conforme fora prometido), aowadi. Ver o
Dicionário chamado Ribeiro do Egito (bem como o artigo chamado Egito, Ribeiro),
quanto a detalhes.
No monte santo em
Jerusalém. Esta cidade se tornará a capital do mundo religioso na era do Reino,
ou milênio. Ver no Dicionário o verbete chamado Milênio. Ver as notas
expositivas sobre Isa. 24.23, onde desenvolvo o tema.