Posted by : Francisco Souza quarta-feira, 14 de março de 2018


Paulo escreve a Igreja de Corintios 1

1 CORÍNTIOS 1

(Versos 1-3). Ao escrever à igreja em Corinto, Paulo o faz como um apóstolo, e tem cuidado em afirmar que recebeu a sua autoridade de apóstolo pelo chamamento de
Jesus Cristo pela vontade de Deus, e não conforme indicação de homem ou segundo a vontade do homem. Escrevendo como um apóstolo é bastante gracioso ao associar a ele um irmão. Se este irmão fosse o Sóstenes que, em dias passados, tinha sido o principal da sinagoga em Corinto, era bem conhecido deles (At 18:17). Ele se dirige à igreja de Deus em Corinto como aqueles que são “santificados em Cristo Jesus, chamados
santos”.

Ele assim vê os santos como colocados à parte para Cristo enquanto passam por
este mundo, e ao mesmo tempo chamados para fora deste mundo mau de hoje para
terem parte com Cristo acima, pois a nossa chamada é “celestial” e “do alto” (Hb 3:1;
Fp 3:14).

O apóstolo, enquanto se dirige à igreja em Corinto, conecta a eles “todos os que
em todo lugar invocam o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”.
Há um só Senhor de quem toda igreja local pode dizer, em referência a todas as outras,
Ele é tanto deles como nosso. Isso é da mais profunda importância em uma epístola que
trata com a conduta prática do cristão, e a manutenção de disciplina e ordem na igreja.
Isso claramente mostra que as instruções se aplicam a todos os cristãos professos para
sempre. Muitas vezes no decorrer da Epístola encontraremos passagens que refutam a
tentativa de limitar a instrução a uma igreja local e à idade apostólica. (ver 1 Co 4:17; 1
Co 7:17; 1 Co 11: 16; 1 Co 14:36, 37; 1 Co 16:1). O apóstolo terá de falar claramente
quanto à desordem nesta igreja, mas atrás de todas as suas palavras claras de
condenação o seu desejo sincero é que eles possam gozar das bênçãos da graça e da paz
de “Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”.

(Versos 4-9). Embora ele tenha muito para corrigir nesta igreja devido ao seu
baixo estado, sem embargo agradecidamente reconhece a graça de Deus em relação a
eles, e a fidelidade de Deus para com eles. A graça de Deus tinha chegado a eles, como
a todos nós, em virtude de Jesus Cristo. Esta graça os tinha enriquecido com todas as
bênçãos espirituais em Cristo e tinha-lhes dado “toda a palavra” e “todo o
conhecimento” da doutrina. Houve um testemunho de Cristo no meio deles, confirmado
pelo conhecimento da verdade, que possuíram, e o fato de que não ficavam atrás em
nenhum dom e que esperavam pela revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso,
a graça que os tinha abençoado tão ricamente os confirmaria até ao fim, para que, por
mais que o apóstolo tivesse de corrigi-los em sua condição dom, no dia do Senhor eles
seriam irrepreensíveis.

Ademais, por mais que os santos possam ser desleais, o apóstolo pode dar graças
porque “fiel é Deus”, por quem os crentes são “chamados para a comunhão do Seu
Filho Jesus Cristo o nosso Senhor”. Aqui, deve ser observado, que não é a comunhão
com o Seu Filho, mas a comunhão do Seu Filho, uma comunhão da qual Cristo, como
Senhor, é o vínculo, e que inclui todo aquele que invoca o Seu Nome. Essa é a
verdadeira comunhão cristã, e a única que a Escritura reconhece. Os cristãos podem
formar outras comunhões das quais o vínculo é a manutenção de alguma verdade
importante, ou a condução de alguma obra especial, mas tais comunhões são sectárias
em caráter e de necessidade muito distante da comunhão para a qual somos chamados, e
que tem o Senhor como o seu vínculo, a ceia do Senhor como a sua expressão mais
profunda, e o Espírito Santo como o seu poder dirigente (1 Co 10:16, 17;2 Co 13:14).

Uma geração pode passar e o outra surgir, mas o único Senhor (Ef 4:5) permanece, e
apesar da grande ruína e confusão na profissão cristã, a Sua vontade para a conduta dos
chamados para a comunhão da qual Ele é o vínculo, e para a disciplina e ordenação das
reuniões de Deus, permanece em toda a sua força como revelado nesta Epístola.
É perceptível que, enquanto agradece a Deus pela Sua graça, o apóstolo é incapaz
de exprimir qualquer aprovação da condição espiritual deles. Enquanto ele se deleita por
reconhecer a fidelidade de Deus, não pode dirigi-se a eles como “irmãos fiéis”, como o
faz escrevendo aos santos em Éfeso e Colossos (Ef 1:1; Cl 1:2). Infelizmente, ele tem
que reconhecer um pouco depois que, apesar de terem “todo o conhecimento” e não
faltar “nenhum dom”, eram “ainda carnais”, e não pode falar-lhes “como a espirituais”.
A carne pode se jactar no conhecimento e usar os dons para a própria exaltação, mas
fazemos bem nos lembrar que o mero conhecimento, e a possessão de todos os dons,
não evitarão a desordem ou assegurarão a espiritualidade se a carne não for julgada.
Tendo assim reconhecido o que era de Deus na igreja, o apóstolo começa a tratar
com as desordens prevalecentes no meio deles, as quais impediram o crescimento
espiritual e o testemunho de Cristo.


(Versos 10, 11). O primeiro grande mal tratado é o estado de divisão que existia
no meio deles. “Há”, escreve o apóstolo, “contenda entre vós”; e novamente em 1 Co
11:18, “ouço que há entre vós dissensões”. Ele abre este assunto com uma apelação para
a qual dá a importância mais grave invocando “o nome do nosso Senhor Jesus Cristo”.
Ele apenas lembra a igreja em Corinto, e nós, que “fomos chamados para a comunhão
do Seu Filho Jesus Cristo o nosso Senhor”. Este chamamento, que traz com ele muitos
privilégios, implica na responsabilidade de ser verdadeiro na comunhão em nosso
caminhar e em nossos caminhos. Para gozar dos nossos privilégios, e levar a cabo as
nossas responsabilidades, somos exortados a sermos perfeitamente unidos no mesmo
sentido e no mesmo parecer, para que não haja nenhuma divisão entre o povo de Deus,
ou brecha na comunhão.

(Verso 12). O apóstolo passa a expor a raiz da qual brotam as divisões. “Cada um
de vós diz: Eu sou de Paulo; e, eu de Apolo; e, eu de Cefas; e, eu de Cristo”. Por um
lado exaltavam os servos dotados do Senhor a uma posição falsa como os centros da
reunião, que é o princípio maligno do clericalismo; por outro lado estavam formados em
partidos em torno destes servos e assim começou o mal do sectarismo.
Pode-se perguntar, que tal os indivíduos que negaram todos os homens como
líderes, e disseram: “e, eu de Cristo”? Esses realmente eram piores do que outros, pois
eles tentavam fazer Cristo o líder de um partido e ignoravam os dons que Cristo tinha
dado. Era a suposição de espiritualidade superior que professava ser capaz de prescindir
do ministério de outros, e a pretensão de se apropriarem de Cristo exclusivamente para
eles mesmos.
O mal aqui é o oposto daquele sobre o qual o apóstolo fala em Atos 20:30. Lá ele
avisou os anciãos de Éfeso que os problemas se levantariam dentre os líderes; aqui ele
afirma que se levanta dentre os discípulos. Lá ele fala do que ocorreria depois da sua
morte, aqui do que estava tendo lugar no tempo da sua vida. Um mal leva a outro. O
mal que começa com a formação de partidos cristãos em torno de líderes termina com
os líderes ensinando coisas perversas. Este princípio solene, que se mostrou em Corinto,
esteve operando por toda a história da igreja com resultados desastrosos parecidos.


O povo se arranjou em torno de professores favoritos, e os líderes, permitindo serem
colocados nessa posição falsa, finalmente ensinaram coisas perversas e trouxeram a
divisão dentre o povo de Deus por atraírem discípulos após si mesmos.
(Versos 13-16). O apóstolo condena o sectarismo deles perguntando: “Está Cristo
dividido?”. Fomos chamados para uma comunhão da qual Cristo é o vínculo. Podemos,
infelizmente, formar outras comunhões com algum outro vínculo, mas não podemos
dividir Cristo. Então ele condena o clericalismo deles perguntando: “Foi Paulo
crucificado por vós?”. Paulo recusou ser exaltado a uma posição falsa como um centro
da reunião do povo de Deus. O único centro verdadeiro da reunião do povo de Deus é
Aquele que provou a Sua reivindicação sobre eles sendo crucificado por eles. Paulo, por
mais que amasse o povo de Deus, não tinham sido crucificados por eles. Ele não
usurparia o lugar nos afetos do povo de Deus que pertencem apenas ao Crucificado. Seu
único objetivo, como o de todo servo verdadeiro, era, como ele diz, desposá-los a um
marido para que pudesse apresentá-los como uma virgem pura para Cristo (2 Co 11:2).
Nem Paulo tinha se feito um centro da reunião batizando no nome de Paulo. Na verdade
tinha batizado apenas a Crispo e a Gaio, e também a família de Estéfanas; quanto ao
resto desses santos coríntios, tinha se abstido de batizá-los para que alguém não dissesse
que batizava no seu próprio nome e por isso procurava formar um partido em torno dele
mesmo. Em assim exaltando os seus professores favoritos, e buscando ganharem
distinção para si mesmo por segui-los, gloriavam-se em homens e não no Senhor, nos
dons e não no Doador.

Para enfrentar estes males o apóstolo insiste em duas grandes verdades: primeira,
a Cruz de Cristo, o grande tema do resto deste capítulo; segunda, a presença e poder do
Espírito Santo, o grande tema do segundo capítulo. Ele terá muito para corrigir
detalhadamente quanto à conduta deles, mas antes de assim fazê-lo procura estabelecêlos
nas grandes verdades que excluem inteiramente a carne, a tolerância na qual está a
raiz de toda a desordem na igreja de Deus. A Cruz trata com a carne no julgamento
perante Deus. A presença do Espírito Santo é intolerante para a carne na igreja de Deus
na terra. É uma consideração solene para nós tudo isso, sempre que permitamos à carne
manifestar-se na igreja de Deus, praticamente negamos a obra da Cruz, e ignoramos a
presença do Espírito Santo.

Primeiro, o apóstolo fala da Cruz de Cristo no Verso 17. Em conexão a isso temos
a pregação da Cruz nos versos 18-25, o chamamento de Deus nos versos 26-29, e,
finalmente, a posição na qual o chamamento de Deus nos traz nos versos 30 e 31. Cada
uma dessas verdades exclui inteiramente a carne e leva à conclusão de que: “Aquele que
se gloria glorie-se no Senhor”.

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