Posted by : Francisco Souza
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
A expressão “ungido do
Senhor” usada na Bíblia em referência aos reis de Israel se deve ao fato de que
os mesmos eram oficialmente escolhidos e designados por Deus para ocupar o
cargo mediante a unção feita por um juiz ou profeta. Na ocasião, era derramado
óleo sobre sua cabeça para separá-lo para o cargo. Foi o que Samuel fez com
Saul (1Sam 10:1) e depois com Davi (1Sam 16:13).
A razão pela qual Davi
não queria matar Saul era porque reconhecia que ele, mesmo de forma indigna,
ocupava um cargo designado por Deus. Davi não queria ser culpado de matar
aquele que havia recebido a unção real.
Mas, o que não se pode
ignorar é que este respeito pela vida do rei não impediu Davi de confrontar
Saul e acusá-lo de injustiça e perversidade em persegui-lo sem causa (1Sam
24:15).
Davi não iria matá-lo, mas invocou a Deus como juiz contra Saul, diante de todo o exército de Israel, e pediu abertamente a Deus que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1Sam 24:12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1Sam 26:9-10).
Davi não iria matá-lo, mas invocou a Deus como juiz contra Saul, diante de todo o exército de Israel, e pediu abertamente a Deus que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1Sam 24:12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1Sam 26:9-10).
O Salmo 18 é atribuído a
Davi, que o teria composto “no dia em que o Senhor o livrou de todos os seus
inimigos e das mãos de Saul”. Não podemos ter plena certeza da veracidade deste
cabeçalho, mas existe a grande possibilidade de que reflita o exato momento
histórico em que foi composto. Sendo assim, o que vemos é Davi compondo um
salmo de gratidão a Deus por tê-lo livrado do
“homem violento” (Sl 18:48), por
ter tomado vingança dos que o perseguiam (Sl 18:47).
Em resumo, Davi não queria
ser aquele que haveria de matar o ímpio rei Saul pelo fato do mesmo ter sido
ungido com óleo pelo profeta Samuel para ser rei de Israel. Isto, todavia, não
impediu Davi de enfrentá-lo, confrontá-lo, invocar o juízo e a vingança de Deus
contra ele, e entregá-lo nas mãos do Senhor para que ao seu tempo o castigasse
devidamente por seus pecados.
O que não entendo é como, então, alguém pode tomar a história de Davi se recusando a matar Saul, por ser o ungido do Senhor, como base para este estranho conceito de que não se pode questionar, confrontar, contraditar, discordar e mesmo enfrentar com firmeza pessoas que ocupam posição de autoridade nas igrejas quando os mesmos se tornam repreensíveis na doutrina e na prática. Não há dúvida que nossos líderes espirituais merecem todo nosso respeito e confiança, e que devemos acatar a autoridade deles – enquanto, é claro, eles estiverem submissos à Palavra de Deus, pregando a verdade e andando de maneira digna, honesta e verdadeira.
Quando se tornam repreensíveis, devem ser corrigidos e admoestados. Paulo orienta Timóteo da seguinte maneira, no caso de presbíteros (bispos/pastores) que errarem:
O que não entendo é como, então, alguém pode tomar a história de Davi se recusando a matar Saul, por ser o ungido do Senhor, como base para este estranho conceito de que não se pode questionar, confrontar, contraditar, discordar e mesmo enfrentar com firmeza pessoas que ocupam posição de autoridade nas igrejas quando os mesmos se tornam repreensíveis na doutrina e na prática. Não há dúvida que nossos líderes espirituais merecem todo nosso respeito e confiança, e que devemos acatar a autoridade deles – enquanto, é claro, eles estiverem submissos à Palavra de Deus, pregando a verdade e andando de maneira digna, honesta e verdadeira.
Quando se tornam repreensíveis, devem ser corrigidos e admoestados. Paulo orienta Timóteo da seguinte maneira, no caso de presbíteros (bispos/pastores) que errarem:
"Não aceites
denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou
três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de
todos, para que também os demais temam" (1Tim 5:19-20).
Os “que vivem no
pecado”, pelo contexto, é uma referência aos presbíteros mencionados no
versículo anterior. Os mesmos devem ser repreendidos publicamente.
Mas, o que impressiona
mesmo é a seguinte constatação. Nunca os apóstolos de Jesus Cristo apelaram
para a “imunidade da unção” quando foram acusados, perseguidos e vilipendiados
pelos próprios crentes. O melhor exemplo é o do próprio apóstolo Paulo, ungido
por Deus para ser apóstolo dos gentios. Quantos sofrimentos ele não passou às
mãos dos crentes da igreja de Corinto, seus próprios filhos na fé! Reproduzo
apenas uma passagem de sua primeira carta a eles, onde ele revela toda a
ironia, veneno, maldade e sarcasmo com que os coríntios o tratavam:
A ninguém permitiu que
os oprimisse; antes, por amor deles, repreendeu a reis, dizendo: Não toqueis
nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas (1Cr 16:21-22; cf. Sl
105:15). Todavia, a passagem mais conhecida é aquela em que Davi, sendo
pressionado pelos seus homens para aproveitar a oportunidade de matar Saul na
caverna, respondeu: "O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu
senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele [Saul], pois é o ungido do
Senhor" (1Sm 24:6).
Noutra ocasião, Davi
impediu com o mesmo argumento que Abisai, seu homem de confiança, matasse Saul,
que dormia tranquilamente ao relento: "Não o mates, pois quem haverá que
estenda a mão contra o ungido do Senhor e fique inocente?" (1Sm 26:9). Davi
de tal forma respeitava Saul, como ungido do Senhor, que não perdoou o homem
que o matou: “Como não temeste estender a mão para matares o ungido do Senhor?”
(2Sm 1:14). Esta relutância de Davi em matar Saul por ser ele o ungido do
Senhor tem sido interpretado por muitos evangélicos como um princípio bíblico
referente aos pastores e líderes a ser observado em nossos dias, nas igrejas
cristãs. Para eles, uma vez que os pastores, bispos e apóstolos são os ungidos
do Senhor, não se pode levantar a mão contra eles, isto é, não se pode
acusa-los, contraditá-los, questioná-los, criticá-los e muito menos mover-se
qualquer ação contrária a eles. A unção do Senhor funcionaria como uma espécie
de proteção e imunidade dada por Deus aos seus ungidos. Ir contra eles seria ir
contra o próprio Deus.