Posted by : Francisco Souza
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
O gnosticismo
chegou a seu ápice cerca de 150 d.C. Portanto, a heresia combatida no NT
principalmente nos livros de Colossenses, 1ª Timóteo, e 1ª João era um
precursor do gnosticismo pleno. Porém as sementes que brotaram mais tarde nesta
heresia perigosa que negava os essenciais da fé cristã já estavam lançadas na
época dos Apóstolos Paulo e João.
O gnosticismo era
um sincretismo entre:
(1) a filosofia grega (o dualismo platônico);
(2) as religiões orientais;
(3) o monoteísmo judaico;
(4) o cristianismo;
Uma biblioteca gnóstica descoberta em Nag Hammadi no Egito, inclui 52 tratados sobre o gnosticismo,
Existiam dois
ramos do pensamento gnóstico:
1. Iraniano = refletia um dualismo horizontal associado com
o culto zoroastriano. A luz e as trevas eram conceituadas como as
"divindades primordiais" com as trevas capturando algumas partículas
da luz. Para resgatá-las, a luz emanou uma série de divindades subordinadas que
batalharam com as subdivindades geradas pelas trevas. "O objetivo da luta
é conquistar os seres humanos que contêm as partículas de luz, e efetuar sua
libertação da prisão deste mundo, de modo que possam reentrar na esfera da luz
celestial".
2. Sírio = surgiu na Síria, Palestina e Egito e refletia um
dualismo vertical que admitia somente "um princípio superior bom". O
mal entrou quando a Deidade Boa (a Profundeza Ulterior) emanou o processo de
nascimentos de deidades em pares. O último par de deidades - Sofia (sabedoria)
- não ficou contente, desejando um relacionamento com a Profundeza Ulterior.
Esta concupiscência inaceitável da Sofia foi extraída dela e excluída das
regiões celestiais (o pleroma = plenitude). Mas com isso a Deidade perdeu parte
da sua natureza divina e agora busca a recuperação da luz decaída, a Sofia
inferior. Esta Sofia inferior emanou demiurgos (seres inferiores - anjos -,
intermediários entre a natureza divina e humana), relacionados com os planetas,
e também criou o mundo mediante o "Criador-Demiurgo Javé".
Através de um
ardil, o "mensageiro divino" (Cristo) conseguiu que Javé soprasse no
homem o fôlego de vida, as partículas de luz divina. Comendo o fruto da árvore
do conhecimento do bem e do mal, o homem-luz se tornou superior a Javé,
descobrindo que ele é um ciumento demiurgo, inimigo da Profundeza Ulterior. Em
contra-ataque, Javé sepultou o homem-luz num corpo terrestre de morte e
esquecimento. O mensageiro divino, Cristo, "adotou" (no batismo de
Jesus) e "deixou" (imediatamente antes da crucificação de Jesus), um
corpo semelhante ao homem para poder despertá-lo do seu sono de esquecimento,
para iluminá-lo através do conhecimento e assim reuni-lo à Profundeza Ulterior
no "pleroma".
Os gnósticos,
então, eram as pessoas espirituais (os pneumatikoi) que, através do seu
conhecimento, já possuíam as partículas de luz, e precisavam somente ser
despertados. Os cristãos eram as pessoas psíquicas (os psychikoi) que
precisavam trabalhar para merecer a salvação. Todos os outros eram as pessoas
materiais pertencentes a este mundo (os sarkikoi - sarx = carne) que estão
destinados à destruição. Ao morrer fisicamente, os gnósticos deixaram à
mortalidade, e passando pelo "purgatório" dos planetas, chegaram finalmente
ao limite (horos) onde, destituídos de todo mal, receberam as boas-vindas na
esfera eterna. [10]
•Definições doutrinárias do gnosticismo:
1. Gnoses = grego para "conhecimento, ciência"
(Cl.2.3); "epignosis" = "pleno, completo conhecimento"
(Cl.1.9,10; 2.2,10).
2. Gnósticos = pessoas iluminadas que possuíam certos
conhecimentos secretos que serviam afinal para unir a alma com Deus. Os
gnósticos eram um "clube fechado dos iluminados" na igreja que se
orgulhavam de possuir segredos, doutrinas, senhas, etc., escondidos da
multidão, por meio dos quais iriam escapar a vigilância dos guardiões demiurgos
dos planetas e das estrelas no seu vôo ao céu para se reunir com Deus. O
gnosticismo se apegou ao cristianismo como um parasita.
3. Dualismo de Platão = (427-347 a.C.), dividiu tudo em duas
partes - o bem e o mal.
Bem = Coisas
invisíveis - Deus - Espírito - Idéias;
Mal = Coisas
visíveis - Mundo - Corpo - Matéria;
4. Alma = uma "fagulha da divindade" aprisionada
no corpo humano.
5. Salvação = a libertação da alma da sua "contaminação
corporal", da sua prisão corporal, para ser absorvida por sua Fonte
Divina. Efetuada através de um complexo de seres intermediários que eram
progressivamente menos divinos chamados "eons" (demiurgos).
6. Cristo = Ao descer de Deus, o Cristo passou pelas
potestades e principalidades (os demiurgos dos planetas), entregando alguma
parte da "autoridade e divindade dele" a elas, até, quando em fim
chegou à terra, ficou sem poder e autoridade. Sua morte comprovou a "inferioridade"
e incapacidade em relação aos anjos e demônios, sendo que os demônios
fizeram-no sofrer. Em Colossenses, Paulo contra-atacou o gnosticismo com:
a. A plenitude de Cristo (Cl.1.15-19; 2.9,10);
b. O Senhorio cósmico de Cristo (Cl.2.8-15);
c. O verdadeiro conhecimento mostrado pelo amor (Cl.1.9,10;
2.1-4,16-18; 3.12-4.1).
•Resultado:
Houve um grande
erro doutrinário em termos de Cristologia e grande erro na prática da vida
cristã.
1. Cristologia - dois extremos:
a. Docetismo -
Estes negaram a encarnação de Cristo (1Jo.4.1-3; 2Jo 7). Ensinaram que Jesus
não tinha um corpo físico; Ele era um fantasma, apenas um "espírito"
(Lc.24.37-40). Alegavam que Deus não podia sofrer numa cruz.
b. Cerintianismo
(veio de Cerinto) - Estes afirmavam que Jesus era apenas homem e que um
espírito chamado Cristo veio sobre Ele no batismo e o deixou antes de sua morte
na cruz (Cl.1.15-19; 2.8-10).
2. Prática - dois extremos:
a. Ascetismo -
suprimir, negar, mortificar os desejos da carne porque o corpo é mau
(1Tm.4.1-5).
b. Antinomismo -
libertinagem, sensualismo, entregar-se a qualquer e a toda paixão sem
restrição, pois as coisas que o corpo faz não podem afetar a alma que é
intrinsecamente boa. A matéria é irreal e inconseqüente (2Tm.3.1-9).
O gnosticismo era
um dualismo filosófico religioso que professava a salvação através de
conhecimento secreto, ou gnoses. O movimento alcançou o ápice de seu
desenvolvimento durante o século II d.C. nas escolas romanas e alexandrinas
fundadas por Valêncio. Estudiosos têm atribuído as origens do gnosticismo a
várias fontes: os cultos de mistério gregos; Zoroastrismo; a Cabala do
Judaísmo; a religião egípcia. Os cristãos cedo consideraram Simão Mago
(At.8.9-24) o fundador do gnosticismo. A doutrina dele, assim, como de outros
mestres gnósticos, não tinha nada em comum com o conhecimento dos mistérios de
Deus que Paulo chamou de "sabedoria" (1Co.2.7).
Líderes cristãos
olharam o gnosticismo como uma ameaça sutil, perigoso para a cristandade
durante o segundo século, um tempo marcado por aspirações religiosas e
preocupações filosóficas sobre as origens da vida, a fonte de mal no mundo, e a
natureza de uma deidade transcendente. O gnosticismo foi percebido como uma
tentativa de transformar o cristianismo em uma filosofia religiosa e substituir
a fé nos mistérios da revelação por explicações filosóficas.
As seitas
gnósticas dividiram seus ensinos em sistemas complexos de pensamento. Uma
característica da posição deles era a doutrina de que toda a realidade material
é má. Uma das convicções centrais era que a salvação é alcançada pela
libertação do espírito do seu encarceramento físico. Explicações elaboradas
eram dadas sobre como este encarceramento veio a acontecer e como a libertação
da alma seria realizada. O Deus transcendente foi removido de tudo que era
material por uma sucessão de seres eternos intermediários chamados de
"aeons". Os aeons emanavam como pares (macho e fêmea); a série
completa (normalmente 30) constituía o "Pleroma", a abundância da Divindade.
Além do Pleroma, havia o universo material e os seres humanos a serem salvos.
No pensamento
gnóstico, uma semente divina havia sido encarcerada em cada pessoa. O propósito
da salvação era libertar esta semente divina da matéria na qual estava
aprisionada e perdida. Os gnósticos classificavam as pessoas em três
categorias:
(1) Gnósticos, ou aqueles cuja salvação era certa, porque
estavam debaixo da influência do espírito (pneumatikoi);
(2) Aqueles que não eram completamente gnósticos, mas capazes
de obter a salvação através do conhecimento (psychikoi);
(3) aqueles tão dominados pela matéria que estavam além da
possibilidade ordinária de salvação (hylikoi).
Os gnósticos frequentemente praticavam um ascetismo
excessivo, porque eles acreditavam que haviam sido liberados assim pelo
espírito.
O gnosticismo foi
denunciado pelos teólogos Irineu, Hipólito e Tertuliano. No terceiro século,
Clemente de Alexandria tentou formular um gnosticismo Cristão ortodoxo, com o
objetivo de explicar a diferença em perfeição alcançada por indivíduos em suas
respostas ao Evangelho. Gradualmente o gnosticismo fundiu-se com o Maniqueísmo.
Hoje, os Mandeanos são a única seita sobrevivente de gnósticos. A pesquisa dos
estudiosos do gnosticismo foi grandemente enriquecida desde 1945, quando uma
biblioteca cóptica de gnósticos foi descoberta perto de Nag Hammadi, no Egito
superior.