Posted by : Francisco Souza
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
Os Efeitos da seca
Escassez e fome
Como nordestino, estou familiarizado com a linguagem dos
capítulos 17 e 18 do primeiro livro de Reis. Esses capítulos trazem um relato
sobre o longo período de estiagem em Israel durante o reinado de Acabe.
Agora mesmo quando escrevo este capítulo, o sul do meu
estado, Piauí está sendo duramente castigado por uma severa seca. Centenas de
cabeças de gados e outros animais nativos da caatinga e do semiárido nordestino
estão morrendo. Os criadores, em um gesto de desespero, estão alugando pastos
em outras partes do estado para tentarem salvar seus rebanhos. Euclides da
Cunha tinha razão quando disse, em seu livro Sertões, que o nordestino acima de
tudo é um forte!10
Mas ninguém conseguiu enxergar todo o drama do nativo do
semi-árido como Patativa do Assaré, poeta e filósofo social nordestino.11 Em
uma coletânea de poesias, Patativa conseguiu expressar em palavras o que passa
o sertanejo nesse período sombrio:
Setembro passou, com outubro e novembro
Já estamos em dezembro.
Meu Deus, o que será de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
A treze do mês ele fez a experiência,
Perdeu a sua crença Nas pedras de sal.
Mas noutra experiência com gosto se agarra,
Pensando na barra Do alegre Natal.
Rompeu-se o Natal, porém a barra não veio,
O sol, bem vermelho,
Nasceu muito além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois a barra não tem.
Sem chuva na terra descamba janeiro,
Depois, fevereiro,
E o mesmo verão.
Então o roceiro, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
[.....]
E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Até mesmo o galo Vendeu também,
Pois logo aparece feliz fazendeiro,
Por pouco dinheiro Lhe compra o que tem.
Em cima do carro se junta a família;
Chegou o triste dia,
Já vai viajar.
A seca terrível, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natal
Dramático! Realista! É exatamente assim que nos sentimos
durante uma seca. Mas ao verificarmos o texto bíblico onde se encontra a
narrativa da predição do profeta Elias, descobrimos igual dramaticidade e
realismo. Elias entra no cenário profético quando o reinado de Acabe e sua
esposa Jezabel, experimentava relativa prosperidade. Foi então que o profeta
Elias vaticinou:
“Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja
face estou, nem orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha palavra”
(1 Rs 17.1).
As consequências dessas palavras carregadas de inspiração
profética são logo sentidas. Confira o relato bíblico em 1 Reis 18.1-8.
A Escritura afirma que “a fome era extrema em Samaria” (1 Rs
18.2). A seca já havia provado que Baal era um deus impotente frente aos
fenômenos naturais e a fome demonstrou à nação que somente o Senhor é a fonte
de toda provisão. Sem Ele não haveria chuva e consequentemente não haveria
alimentos. O texto de 1 Reis 18.5, revela que até mesmo os cavalos da montaria
real estavam sendo dizimados. O desespero era geral. A propósito, o texto
hebraico de 1 Reis 18.2 diz que a estiagem foi violenta e severa. A verdade é
que o pecado sempre traz consequências amargas!
Endurecimento ou
arrependimento
É interessante observarmos que o julgamento de Deus produziu
efeitos diferentes sobre a casa real e o povo. Percebemos que à semelhança de
Faraó (Ex 9.7), o rei Acabe e sua esposa, Jezabel, não responderam favoravelmente
ao juízo divino. Acabe, por exemplo, durante a estiagem confrontou-se com o
profeta Elias e o acusou de ser o perturbador de Israel (1 Rs 18.17). Quem
resiste à ação divina acaba por ficar endurecido! Somente no caso de Nabote ele
viria demonstrar algum arrependimento.
Por outro lado, o povo que não dera nenhuma resposta ao
profeta Elias quando questionado (1 Rs 18.21), respondeu favoravelmente ante a
ação soberana do Senhor: “O que vendo todo o povo, caiu de rosto em terra e
disse: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus! (1 Rs 18.39).
O Novo Testamento alerta: “quando ouvires a sua voz não
endureçais o vosso coração” (Hb 3.8).