Posted by : Francisco Souza
domingo, 18 de agosto de 2019
Os Perigos da Apostasia
Um perigo real
A apostasia era algo bem real no reino do Norte e estava
espalhada por toda parte. Na verdade a palavra apostasia significa, segundo os
expositores, abandono da fé ou mudar de religião.7 Foi exatamente isso que os
israelitas estavam fazendo. Estavam abandonando a adoração devida ao Deus
verdadeiro para seguirem aos deuses cananeus. Estavam trocando o jeovismo pelo
baalaismo.
Em o Novo Testamento observamos que os cristãos são
advertidos sobre o perigo da apostasia! Na epístola aos Hebreus o autor coloca
a apostasia como um perigo real e não apenas como uma mera suposição (Hb
6.1-6). Se o cristão não mantiver a vigilância é possível sim que ele venha a
naufragar na fé.
Em um artigo que escrevi para a revista Ensinador Cristão
(CPAD), fiz uma exposição do texto de Hebreus 6.1-6, como crêem as duas
principais escolas teológicas — a calvinista e em sua
Bíblia de Estudo MacArthur, que reflete a posição calvinista, comenta a
passagem de Hebreus 6.4-8 da seguinte forma:
“A frase ‘uma vez foram iluminados’ frequentemente se toma
como uma referência a cristãos, e a advertência que a acompanha se toma como
uma indicação do perigo de perder a sua salvação se ‘recaíram’ e ‘crucificaram
de novo para si mesmo o Filho de Deus’. Pelo que não há menção de que sejam
salvos e não são descritos com nenhum termo que se aplique unicamente a crentes
(tais como santo, nascido de novo, justo ou santos). Este problema emana a
partir de uma identificação imprecisa da condição espiritual daqueles aos quais
o autor está se dirigindo. Neste caso, eram incrédulos que haviam chegado ao
ponto de ter uma salvação genuína. Em 10.26, faz-se referência uma vez mais a
cristãos apóstatas, não a crentes genuínos de quem frequentemente se pensa que
perdem sua salvação por seus pecados”.8
O argumento de é bem construído, mas apresenta
alguns problemas de natureza exegética. Daniel B. Pecota, teólogo de tradição
pentecostal, observa que no Novo Testamento encontramos apoio para a doutrina
da segurança do crente, todavia não como querem os calvinistas extremados.
Ele
destaca, por exemplo, passagens bíblicas que mostram que nada de tudo quando
Deus deu a Jesus se perderá (Jo 6.38-40); Que as suas ovelhas jamais perecerão
(Jo 10.27-30); Jesus orou para que Deus protegesse os seus seguidores (Jo
17.11); Somos guardados por Cristo (ljo 5.18); Que o Espírito Santo é o selo de
garantia da nossa salvação (Ef 1.14); O seu poder nos guardará (1 Pe 1.5) e que
o Deus que habita em nós é maior do que qualquer coisa fora de nós (1 Jo 1.4).
Por outro lado, a Bíblia de Estudo Pentecostal, ao comentar
a mesma passagem bíblica de Hebreus 6.4-8, diz: “Nestes três versículos (Hb
6.4-6) o escritor de Hebreus trata das consequências da apostasia (decair da
fé). Esta palavra (recaíram, gr. parapesontas, de parapipto) é um particípio
aoristo e deve ser traduzido no tempo passado — literalmente: “tendo decaído”.
O escritor de Hebreus apresenta a apostasia como algo realmente possível.”9
Daniel B. Pecota observa ainda que os calvinistas
desconsideram dezenas de passagens bíblicas que se contrapõem a teoria de “uma
vez salvos para sempre salvos”. Observa-se que os teólogos da tradição
calvinista ou reformada fazem dezenas de contorções teológicas para fundamentar
suas convicções. John MacArthur, como já vimos, tenta anular a possibilidade de
o crente vir a perder a sua salvação argumentando que as pessoas citadas na
epístola aos Hebreus 6 não eram crentes genuínos ou que eram incrédulos. Mas
como poderia o autor falar da possibilidade de alguém perder algo que nunca
teve? Por outro lado, Millard Erickson, renomado expositor bíblico, também de
tradição calvinista, argumenta que o autor fala de uma “apostasia” apenas
hipotética! Ele argumenta que o autor diz que poderíamos apostatar, porém,
mediante o poder de Cristo para nos conservar, isso não vai acontecer. Se é uma
possibilidade que não existe, então por que o autor falaria dela? Um argumento
que se autoanula!
Há dezenas de passagens bíblicas que, de fato, mostram que
alguém pode apostatar ou perder a sua salvação. Jesus, por exemplo, diz que o
amor de muitos esfriará (Mt 24.12,13). Ele adverte que aqueles que olham para
trás são indignos do reino (Lc 9.62). Adverte-nos também a nos lembrarmos da
mulher de Ló (Lc 17.32). O Senhor advertiu ainda que se alguém não permanecer
nEle será cortado (Jo 15.6). Paulo, o apóstolo da graça, adverte que podemos
cair da graça (G1 5.4). Ele ainda lembra-nos de que alguns naufragaram na fé (1
Tm 1.19) e que outros abandonarão a fé (1 Tm 4.1).
Para Paulo, aquele que negar o Senhor será negado por Ele (2
Tm 2.12). E Pedro cita aqueles que escaparam da corrupção do mundo pelo
conhecimento do Senhor Jesus Cristo e que depois se desviaram. Todos esses
textos mostram a possibilidade real, e não apenas hipotética, de alguém vir a
perder a salvação. Como se desencadeia esse processo: 1) O cristão deixa de
levar a sério as advertências da Palavra (Lc 8.13; Jo 5.44,47); 2) Quando o
mundo passa a ser mais importante do que o Reino de Deus (Hb 3.13); 3) Uma
tolerância para com o pecado (1 Co 6.9,10); 4) Dureza do coração (Hb 3.8,13); e
5) Entristecer o Espírito Santo deliberada e continuamente (Ef 4.30).10
Um mal evitável
A apostasia, portanto, é uma real possibilidade, mas não
devemos nos centrar nela, mas na graça de Deus. Ainda ao tratar desse assunto,
a Bíblia de Estudo Pentecostal observa que, embora seja um perigo para todos os
que vão se desviando da fé e se apartam de Deus, a apostasia não se consuma sem
o constante e deliberado pecar contra a voz do Espírito Santo. As Escrituras
afirmam com clareza que Deus não quer que ninguém pereça (2 Pe 3.9) e declaram
que Ele receberá todos que já desfrutaram da graça salvadora, se arrependidos,
voltarem para Ele (cf. G15.4; 2 Co 5.1-11; Rm 11.20-23;Tg 5.19,20). Fica a
advertência bíblica para nós: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os
vossos corações (Hb 3.7,8,15; 4.7).
No caso de Acabe, observamos que este foi um rei mau (1 Rs
16.30). Em vez de seguir os bons exemplos, como os de Davi, esse monarca do
reino do Norte preferiu seguir os maus exemplos. O cronista destaca que
“ninguém houve, pois, como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mal
perante o Senhor, porque Jezabel sua mulher, o instigava” (1 Rs 21.25). Ainda
de acordo com esse mesmo capítulo, Acabe se contristou quando foi repreendido
pelo profeta, mas parece que foi um arrependimento tardio (1 Rs 21.17-29).
Tivesse ele tomado essa atitude antes, o seu reinado teria sido diferente.
Por que não seguir os bons exemplos e assim evitar o amargor
de um arrependimento tardio?
Ficou perceptível neste capítulo que a apostasia no Reino do
Norte pôs em perigo a existência do povo de Deus durante o reinado de Acabe. A
sua união com Jezabel demonstrou ser nociva não somente para Acabe, que teve o
seu reino destroçado, mas também para o povo de Deus que por muitos anos ficou
dividido entre dois pensamentos em relação ao verdadeiro culto.
As lições deixadas são bastante claras para nós: não podemos
fazer aliança com o paganismo mesmo que isso traga algumas vantagens políticas
ou sociais; a verdadeira adoração a Deus deve prevalecer sobre toda e qualquer
oferta que nos seja feita. Mesmo que essas ofertas tragam grandes ganhos no
presente, todavia nada significam quando mensuradas pela régua da eternidade.